No Brasil, pesquisas com substâncias psicodélicas para tratamentos psicológicos têm se desenvolvido bastante e, apesar da falta de investimento em ciência e pesquisa no país, neurocientistas e psiquiatras apostam nos psicodélicos como futuro da medicina. Atualmente, o Brasil é líder da ”renascença psicodélica” na área medicinal.
É do Brasil
Pesquisas com substâncias psicodélicas como psilocibina, MDMA e DMT renasceram e têm tido resultados muito positivos para tratamento de distúrbios psicológicos como depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade, dependência química, dor crônica, entre outros. Os cientistas brasileiros estão na vanguarda dessas pesquisas.
Em 2018, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) se posicionou a favor da legalização e regulamentação de todas as drogas no Brasil. A moção foi aprovada por unanimidade e visa que seja possível desenvolver cada vez mais pesquisas com as substâncias psicodélicas e psicoativas. A SBPC defende uma política de drogas progressista e não proibicionista, orientada pelas melhores evidências científicas disponíveis nacional e internacionalmente, e livre de dogmatismos e preconceitos.
Apesar de ainda não serem legalizadas para uso medicinal, as substâncias psicodélicas têm sido estudadas por diversos neurocientistas brasileiros e já somos o 3º país com mais artigos de impacto sobre psicodélicos, com publicações no mundo todo.
Cientistas brasileiros têm liderado a frente mundial de estudos com ayahuasca, bebida feita de um cipó brasileiro e folhas de arbustos, cujo princípio ativo é o DMT, e é conhecida por seu uso ritualístico em comunidades indígenas da Amazônia, com foco em cura espiritual.
Além disso, esse ano, foi aberta no Brasil a primeira empresa de inovação psicodélica, a Scirama.
Não é alucinação, é ciência
Eduardo Schenberger, neurocientista brasileiro, conduziu um estudo com MDMA para tratamento de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e declarou à BBC: “Os resultados no Brasil foram espetaculares, muito parecidos com o que vem sendo observado no exterior. As estatísticas mostram que dois terços dos pacientes saem do tratamento curados”.
O pesquisador e coordenador da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, Renato Filev, está a frente das pesquisas com cogumelos e afirma que a psilocibina é promissora em tratamentos psicológicos porque essa substância, como a cannabis e ayahuasca, tem potencial de mudar comportamentos repetitivos e problemáticos.
O neurocientista Dráulio Barros de Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), avaliou a ação antidepressiva da ayahuasca em pacientes com depressão severa que não respondiam aos medicamentos usuais.
Após 7 dias de tratamento com ayahuasca, cerca de 60% das pessoas que receberam a preparação com as folhas e o cipó haviam apresentado uma redução superior a 50% nos sinais de depressão e metade desses participantes estava completamente livre dos sintomas.
Defende-se que estamos em vantagem nas pesquisas com psicodélicos graças ao conhecimento ancestral acumulado pelos povos indígenas. No Brasil, há uma forte tradição cultural de uso destas substâncias, o que permite um ambiente mais holístico para entender o significado e o impacto destas práticas na vida das pessoas.
Abrindo as portas da percepção
Os cientistas e pesquisadores acreditam que o amplo movimento para legalização da cannabis teve um papel importante para essa abertura aos potenciais medicinais dos psicodélicos.
Depois que surgiram mais pesquisas com cannabis e seus benefícios terapêuticos ficaram mais conhecidos, os ”olhos” das pesquisas se voltaram para outras substâncias psicoativas. É claro que existem pesquisas com psicodélicos há bastante tempo, mas atualmente essas substâncias tiveram um boom na área medicinal e, como mencionado, pode ter sido a cannabis que pavimentou a re-entrada dos psicodélicos nessa área.
Essas substâncias enfrentam as mesmas questões que já desafiaram a cannabis (e ainda desafiam aqui no Brasil): resistência ideológica por parte de setores conservadores. Mas espera-se que, como a cannabis, com mais pesquisas seja possível desestigmatizar e desmistificar os usos medicinais dos psicodélicos.
Inovação psicodélica
A empresa Scirama é a primeira no Brasil voltada para pesquisas com psicodélicos e surgiu para oferecer financiamento inicial e ajuda na estruturação de produtos e terapias derivados dessas substâncias. Foi fundada pelos mesmos criadores da Green Hub, aceleradora de empresas da área de maconha medicinal e cânhamo.
A Scirama lançará em breve um edital para receber propostas de pesquisadores brasileiros. De saída, a equipe espera receber ideias na área de psicoterapia com psicodélicos clássicos (ayahuasca, LSD, psilocibina) e mesmo para cultivo de cogumelos, como os Psilocybe.
Outro setor em que a Scirama pretende inovar é o de compensações para os povos tradicionais que usam psicodélicos em rituais há séculos e legaram esse conhecimento para a ciência contemporânea
Fonte: Hypeness e ICTQ.