Registros apontam que os primeiros usos da cannabis se deram no Oriente. Estudos indicam que, na China, a cannabis já era usada há mais de 10 mil anos atrás, tanto para produção de papel, alimento, quanto para o pagamento de tributos, na medicina e em rituais. 

A Índia também guarda uma cultura milenar atrelada à cannabis. O hinduísmo está diretamente ligado a essa planta, e Bangladesh, que fez parte da Índia até 1947, significa ”povo da terra do bhang”, bebida tradicional dessa cultura oriental feita com cannabis. 

Existem diversos outros aspectos da cannabis que se mesclam com a cultura milenar indiana. 

Sistema Ayurvédico

O Ayurveda – termo que vem do sânscrito e significa “ciência da vida” – é um dos mais antigos sistemas de saúde, considerado medicina tradicional indiana. 

Esse sistema é classificado como uma filosofia médica, que nasceu na Índia, há aproximadamente 5 mil anos atrás, e propõe o equilíbrio entre corpo, mente e espírito, como sinal de saúde. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Ayurveda (ABRA), essa filosofia médica possui 2 objetivos principais: preservar e promover a saúde das pessoas saudáveis e curar as doenças dos pacientes. As ferramentas terapêuticas do Ayurveda são métodos naturais como óleos vegetais, plantas medicinais, biopurificação, desintoxicação, yoga e meditação, para citar alguns. 

Os livros de estudos da Ayurveda mencionam a cannabis para diversos tratamentos, que deve ser preparada com outras ervas e com um ”veículo”, como leite ou manteiga clarificada.

Outras ervas são recomendadas junto à cannabis para eliminar os efeitos considerados tóxicos de resíduos da cannabis. 

Na índia, essa planta foi estudada extensa e profundamente. Muito do que se sabe hoje, já constava em documentos de 1500 à 1200 a.C. da cultura milenar indiana.

Documentos como o Dravya Gunas e Susruta-samhita, importantes documentos dentro da medicina ayurvédica, apontam que a cannabis é benéfica para o sistema circulatório, digestivo, respiratório, urinário, reprodutor, para a pele, insônia, como afrodisíaca, analgésica, entre outras aplicações.

Mais próximo de nossa época, um documento de 1893 preparado como relatório para a coroa britânica, que tinha a Índia como colônia, destacava as propriedades medicinais da planta para o alívio da dor, para melhorar o estado físico e mental geral, tendo a concepção de que servia para estimular o apetite e aliviar a fadiga.

Dentro da filosofia medicinal ayurvédica, a especialista Guillermina Minicucci explica, em entrevista para a Revista THC, que nenhuma substância é impedida de ser usada como psicoativa ou como medicamento. A diferença entre os usos está apenas na dose.

Dessa forma, a dose depende do paciente, do seu organismo e da finalidade de tratamento. Mas dentro da Ayurveda não existem usos corretos ou incorretos.

Por fazer parte de maneira intrínseca no sistema ayuvérdico, o uso da cannabis com essa finalidade não é proibido pelas Convenções da ONU que regem sobre a proibição da cannabis à nível global. 

Usos ritualísticos

Estudos apontam que tribos da região indiana já utilizavam a cannabis de maneira ritualística desde 2000 a.C.

A planta é listada nos textos que formam a base do sistema de escritura do hinduísmo (os Vedas sagrados). No Atharva Veda, escrito entre 1500 e 1200 a.C., a cannabis é descrita como uma erva sagrada e aparece relacionada com o deus Shiva

Shiva defendia que a cannabis é uma planta que foi presenteada aos humanos e que deve ser usada de maneira sagrada para se encontrar com o mundo superior.

Os Sadhus, sábios seguidores de Shiva, considerados homens sagrados na índia, fumam haxixe livremente pelo país em chilluns (cachimbos feitos de pedra), até a atualidade.

O próprio bhang era considerado uma bebida sagrada, oferecida aos guerreiros para ganhar coragem e por conter propriedades mágicas, segundo relatos.

Para a tradição brâmane (que integrou o atual hinduísmo), acreditava-se que a cannabis dinamiza o pensamento, concede saúde e vida longa, e possui propriedades afrodisíacas.

Seus usos se espalharam por toda a Índia em rituais religiosos e sociais.

Na cultura milenar indiana, a cannabis tem papel fundamental e foi estudada em detalhes. Com todo esse amplo conhecimento ancestral, é difícil encarar todo o proibicionismo e falta de informação que ainda impera em boa parte da sociedade.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.