A ibogaína é encontrada na raiz da planta africana Iboga, e é considerado um ”psicodélico atípico”, que age sobre múltiplos alvos do nosso cérebro, como por exemplo, nos receptores opioides, glutamatérgicos e colinérgicos.
Os usos da ibogaína eram comuns na África Central, nos países Gabão, Camarões e Congo. Desde 1800, tribos desses países consumiam a ibogaína em cerimônias, de maneira ritualística, e até mesmo em doses pequenas no dia-a-dia, pois acreditavam que a planta dava disposição.

Estes países da África Central eram colônia da França, e a comunidade médica, bem como a indústria farmacêutica francesas, utilizavam a ibogaína de forma medicinal. Durante 30 anos, esse psicodélico foi vendido e prescrito na França como um antidepressivo e estimulante chamado Lambarene. Até que, em 1960, o governo proibiu a ibogaína. Provavelmente em função da proibição à nível global de substâncias psicodélicas e psicoativas.
Mas, em 1962, Howard Lotsof, um cientista e pesquisador norte-americano, viciado em heroína, conheceu a iboga e começou a fazer experimentos. Lotsof percebeu que o uso da ibogaína eliminou seu vício e aplicou o experimento em amigos que também sofriam com dependência química. Os resultados foram promissores. A maioria dos participantes do seu experimento perderam a vontade de usar heroína e não sentiram abstinência.
Howard Lotsof, inclusive, fundou a Global Ibogaine Therapist Alliance, uma organização sem fins lucrativos dedicada a apoiar os usos sacramentais e terapêuticos da Iboga.
Apesar da ibogaína ser proibida, os estudos continuaram, mesmo com dificuldades, e através de pesquisas em roedores, foi descoberto que o psicodélico reduziu a vontade de consumir heroína, morfina, cocaína e álcool.
Como a substância age
Com mais pesquisas, já ficou comprovado que a ibogaína pode reduzir sintomas de abstinência e de fissura. Ao consumir a ibogaína, o paciente passa por algumas horas de intensa alteração de percepção e é levado em uma jornada visual por seus eventos de vida mais significativos.

Acredita-se que a substância permite que seu cérebro abra novos caminhos, novos padrões de consciência, ao criar essas novas conexões, ela é capaz de eliminar os sintomas de abstinência e extinguir os desejos por opióides e até mesmo álcool em poucas horas. Ao contrário da buprenorfina e da metadona, dois medicamentos comuns aprovados para superar os vícios de opióides, a ibogaína não substitui os opióides, mas age no crescimento e na plasticidade dos neurônios, permitindo que o cérebro mude seus padrões de vício.
Além disso, um estudo do Professor Alan Davis, da Universidade John Hopkins (EUA), mostrou que a ibogaína teve resultados promissores para diminuir pensamentos suicidas, síndrome do transtorno pós-traumático, depressão e ansiedade.
O Professor afirma que os medicamentos tradicionais apenas tentam tratar sintomas, mas os psicodélicos, como a ibogaína, podem levar a uma verdadeira cura.
Ibogaína no Brasil
A ibogaína não é ilegal no Brasil, mas também não é regulamentada. Existe um limbo jurídico em relação à substância.
Na última década, porém, houve uma expansão de seu uso no país, principalmente após uma pesquisa com pacientes brasileiros mostrando resultados positivos para dependência química. E o Brasil tem liderado diversos estudos com a substância.
Segundo o pesquisador Dr. Bruno Ramos Gomes, para o portal Ciência Psicodélica, ”Efeitos como esses são impressionantes na área de cuidado aos usuários de álcool e outras drogas, em que boa parte dos tratamentos oferecidos têm pouca efetividade. Com a divulgação desses dados, aumentou a procura pelo tratamento”.
Aqui no Brasil, especialmente, o tratamento com ibogaína se apresenta como promissor para dependência de crack. Mas o acesso não é simples.
O Dr. Bruno aponta que ”é possível que um profissional médico prescreva ao seu paciente e este importe a ibogaína como uma medicação em seu nome, a partir de uma portaria da ANVISA”.
Por faltar mais pesquisas e regulamentação, o uso da ibogaína acaba sendo feito em contextos diversos: em clínicas e comunidades terapêuticas ou de maneira informal, como por exemplo, pessoas que compram microdoses de maneira ilegal e fazem uso em casa, ou em rituais ameríndios junto à ayahuasca ou o rapé.
O pesquisador comenta que a duração do tratamento varia de um a cinco dias e consiste em ”diferentes formas de extração e concentração da ibogaína e de outros alcaloides da planta”.
Mas é importante sempre buscar acompanhamento médico com o tratamento, uma vez que o uso inadequado pode causar efeitos adversos graves e até mesmo óbitos.
As análises dos óbitos apontam que pode haver risco do uso de ibogaína associado a alguma questão clínica preexistente ou ao uso de drogas durante ou logo após a ibogaína. Os dados mostram a presença de alguma doença hepática, úlcera péptica, neoplasia cerebral, hipertensão ou outras doenças cardiovasculares.
Por isso, é importante que o uso seja feito junto a um profissional da saúde, seguindo protocolos adequados.
Além disso, espera-se que mais estudos e pesquisas surjam a fim de trazer mais conhecimento sobre as possibilidades de tratamento com ibogaína.
Fonte: Time Magazine