Os primeiros usos da cannabis eram feitos de forma espiritual, geralmente em rituais, nos antigos sistemas religiosos e de crenças que existem há milhares de anos! Muitos destes usos permanecem e, inclusive, há pouco anos foi fundada uma nova religião 100% dedicada à adoração da maconha.

A cannabis é capaz de ampliar nossa percepção, nossa mente, nossa criatividade, nossos sentidos. Algumas comunidades religiosas acreditam que essa característica da planta ajuda na conexão espiritual com o divino e ajuda na busca de respostas e iluminação para explicar fenômenos que nos cercam. 

Dessa forma, ao longo da história, a cannabis desempenhou um papel importante em muitos sistemas de crenças. E esse uso espiritual e ritualístico acontece até hoje. Conheça alguns destes usos por religiões do mundo.

Taoísmo 

O surgimento do taoísmo remonta pelo ao século 4 a.C. na China, aproximadamente. O princípio fundamental do taoísmo é ”siga o fluxo”. 

A cannabis desempenhou um papel importante nessa religião. Inclusive, os taoístas adoravam uma deusa chamada ”Magu”, que em tradução do chinês significa ”Miss Hemp”, e ficou conhecida como deusa do cânhamo. Magu utilizava o cânhamo para curar pessoas e defendia que a cannabis era o elixir da vida. 

Registros taoístas documentam o consumo de sementes de cânhamo como proteção contra possessão demoníaca, e as sementes eram queimadas em rituais de purificação. Também é relatado o uso de cannabis em queimadores de incenso, para alterar a mente nos rituais taoístas.

(Imagem: Magu – Hemp Goddess | Reprodução Ancient Origins)

Xintoísmo

O Japão tem uma longa história com a cannabis. As tribos da ilha faziam roupas e cestos e consumiam as sementes do cânhamo. No antigo sistema de crenças Xintoísta (que existe até hoje), a cannabis também tem participação importante.

A religião abriga uma visão supersticiosa e espiritual do mundo. Embora os humanos sejam vistos como bons, eles podem ser vítimas das ações de espíritos malignos. Dessa forma, os xintoístas vêem a cannabis como uma planta purificadora, capaz de expulsar os espíritos malignos. Sacerdotes xintoístas balançam feixes de erva sobre indivíduos possuídos para exorcizar esses seres.

Apesar da cannabis ser proibida e estigmatizada no Japão, é permitido o cultivo e usos pelos xintoístas.

(Imagem: santuário xintóista no Japão. Essas cordas, conhecidas como Shimenawa, são vistas como símbolo de purificação, e são feitas, tradicionalmente, com cânhamo. Pelo fato da cannabis ter sido estigmatizada por muito tempo no país, hoje as cordas também são feitas com palha de arroz | Reprodução Japan Cheapo).

Budismo

A cannabis desempenhou um papel importante na jornada de Buda, que, segundo registros, consumiu semente de cânhamo diariamente durante seu caminho para a iluminação.

Os ensinamentos de Buda desenvolveram-se ao longo do tempo em um grande corpo de tradições e práticas espirituais. As páginas do Mahakala Tantra (uma escritura de oito capítulos do budismo) falam sobre a prescrição de cannabis e outras substâncias que alteram a mente para fins medicinais e espirituais. Apesar do budismo possuir três ramos diferentes, que vêem a cannabis de diferentes perspectivas (um dos ramos proíbe) é inegável que a planta teve participação (e ainda tem) na medicina e rituais da Índia.

(Imagem: reprodução British Library)

Hinduísmo

A cannabis caminha lado a lado com a tradição hindu. O deus Shiva está intimamente ligado com a planta, e os Vedas (textos que guiam o hinduísmo) classificam a cannabis como uma planta sagrada, descrevendo-a como ”libertadora” e ”fonte de felicidade”. Em um festival anual, que acontece na Índia, para celebrar Shiva, o uso de haxixe é feito em devoção ao deus.

O bhang (bebida preparada com leite, ervas e cannabis) sempre foi usado de maneira ritualística na Índia e, ainda hoje, é consumido durante os festivais do país, como o Holi

Além disso, os Sadhus (homens sagrados) da Índia fumam haxixe em chillums, de maneira ritualística, até os dias hoje.

Islamismo

Existem interpretações diversas sobre a cannabis no Islamismo. Há quem defenda que consumir a erva é um pecado (”haram”, como eles chamam). Mas existe um ramo místico do Islamismo, o Sufismo, que permite o uso espiritual da cannabis. 

Um líder sufista, Haydar, ao defender a cannabis mencionou aos seguidores ”esta planta dissipará as sombras que nublam suas almas e iluminarão seus espíritos”. 

E é importante notar que os árabes – que deram início ao Islamismo – foram os primeiros a extrair haxixe. 

Entretanto, nem todos os árabes seguem a religião islâmica, mas os que seguem e consomem haxixe (ou o kief), usam de maneira ritualística de acordo com o Sufismo. 

(Imagem: reprodução Hypeness)

Cristianismo

(Imagem: reprodução Vice)

Sabemos que a tradição cristã é extremamente conservadora quanto à cannabis. Mas a Bíblia parece mostrar que eles podem estar errados quanto ao posicionamento. Há de se reconhecer que as interpretações da Bíblia foram sendo distorcidas ao longo do tempo. 

Mas, acadêmicos que estudam as escrituras afirmam que existem passagens bíblicas que fazem referência à cannabis, e acredita-se que Jesus e seus discípulos usaram cannabis como ingrediente de cura. Neste vídeo, o autor Dave Bienestock esclarece as evidências da presença da cannabis na história bíblica, e a relação entre Jesus e maconha.

Rastafarianismo

A cannabis constitui um elemento central nas práticas espirituais Rastafáris. No rastafarianismo, os rituais, geralmente, envolvem tocar tambores, fumar ervas, cantar hinos e pregar as doutrinas do rastafarianismo. 

Eles vêem a planta como um sacramento que ajuda a induzir sentimentos de paz e amor, introspecção e facilita a descoberta da divindade interior, e também defendem que existem passagens da Bíblia que falam sobre a cannabis.

Canteísmo: uma religião toda dedicada à cannabis

A cannabis não está apenas presente nas tradições religiosas que surgiram no passado. 

Um sistema de crenças contemporâneo surgiu para sacramentar, única e exclusivamente, a cannabis. O Canteísmo usa a erva de maneira sagrada para cultivar a comunidade e a conexão. 

Fundado em 1996, o Canteísmo não possui nenhum dogma, apenas se dedica ao uso espiritual da cannabis. Nas cerimônias canteístas, basicamente, é feita uma adoração à cannabis. 

(Imagem: reprodução Canniseur)

Irmãs do Vale

As freiras que cultivam maconha, como ficaram conhecidas, não se identificam com nenhuma religião. Na verdade, criam suas próprias regras e o objetivo principal dessa irmandade de mulheres é: curar o mundo através da maconha.

As Irmãs do Vale (Sisters of the Valley) cultivam cannabis e comercializam produtos medicinais feitos com a planta. Junto à isso, elas uniram o compromisso com a sustentabilidade e a conexão das mulheres com terra, através de uma irmandade.

Desde 2015, a Irmã Kate (fundadora da irmandade), começou a empregar mulheres que, como ela, acreditam nos poderes curativos da planta e compartilham o desejo de viver e trabalhar em comunidade. Elas ficaram conhecidas como Irmãs do Vale e moram na propriedade de Kate, na Califórnia, onde é feito o cultivo da cannabis e a criação dos produtos medicinais.

(Imagem: reprodução Variety)

O uso do hábito, e de vestidos longos e saias, veio de uma caracterização por parte da Kate. Mas as irmãs afirmam que o traje não tem cunho religioso.

Recentemente, foi lançado um documentário sobre a história das irmãs, como tudo surgiu, como funciona e quais os objetivos da irmandade. Confira o trailer:

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