Não é novidade que estamos vivendo uma ”renascença psicodélica”, movimento onde as substâncias psicodélicas têm sido amplamente estudadas e aplicadas na área da medicina, sobretudo na psiquiatria

Com um maior número de pesquisas científicas surgindo a respeito do tema, a aceitação em torno dos psicodélicos tem crescido. 

Portanto, pode-se dizer que tais pesquisas têm revolucionado a área da saúde com os psicodélicos.

(Imagem: reprodução Healthline)

A Psychedelic Science Review, plataforma que facilita o acesso à informação científica sobre psicodélicos, fez um levantamento dos principais estudos da área realizados em 2020.

Eles apontam que ano passado, o tema ”psicoterapia assistida com psicodélicos” liderou os artigos publicados. 

Critério de seleção

Para reunir os 12 principais artigos sobre o tema, a plataforma extraiu dados de estudos sobre psicodélicos do Google Schoolar.

O resultado foi uma lista para referência geral sobre o tema, com trabalhos feitos por vários pesquisadores renomados da área. 

Selecionamos 6 artigos publicados em 2020, dentre os 12 levantados pela Psychedelic Science Review, que mostram os caminhos que a pesquisa científica sobre psicodélicos tem trilhado.

(Imagem: reprodução Forbes)

1. Psicodélicos e psicoterapia assistida com psicodélicos

”Psychedelics and psychedelic-assisted psychotherapy”, por CM Reiff, EE Richman, CB Nemeroff, et al.

Essa pesquisa reúne uma revisão da literatura sobre tratamento de transtornos psiquiátricos com compostos psicodélicos, desde 2007. 

A partir da análise dos estudos, os pesquisadores descobriram que o MDMA e a psilocibina têm um maior número de informações relevantes para a área.

Eles também apontam que esses dois compostos foram classificados como terapia inovadora para tratamento de depressão e Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), pelo Food and Drug Administration dos Estados Unidos (agência análoga à Anvisa no Brasil). 

Os autores observaram, ainda, que, para o período considerado, havia apenas informações observacionais para a ayahuasca e o LSD. No entanto, eles acrescentaram, “as evidências disponíveis sugerem que esses agentes podem ter efeitos terapêuticos em transtornos psiquiátricos específicos”.

(Imagem: reprodução Open Access Gorvernment)

2. O uso do modelo de flexibilidade psicológica para apoiar a terapia psicodélica assistida

”The use of the psychological flexibility model to support psychedelic-assisted therapy”, por R Watts e JB Luoma.

Os pesquisadores desenvolveram o modelo Aceitar, Conectar e Incorporar (ACE, sigla para Accept, Connect and Embody) para uso em psicoterapia assistida por psilocibina.

O artigo se concentrou na descrição do modelo ACE e como ele está sendo usado em ensaios clínicos para o tratamento da depressão.

Os autores dizem que ACE “serve como uma estrutura para os terapeutas para guiar os pacientes para a aceitação do que é desafiador, conexão com o que é positivo e manter isso incorporado.” 

Watts e Luoma dizem que o ACE pode ajudar a inaugurar uma nova fase na psicoterapia psicodélica assistida.

3. O admirável mundo novo da psiquiatria psicodélica

”Psychedelic psychiatry’s brave new world”, por D Nutt, D Erritzoe, e R Carhart-Harris.

Essa revisão científica discute os vários esforços de pesquisa psicodélica em trazer novas alternativas para área da psiquiatria, em décadas.

Os autores apontam que esse movimento “retifica décadas de paralisia global da pesquisa, proveniente dos efeitos negativos da guerra contra as drogas, que se tornou um dos piores exemplos de censura da pesquisa em humanos na história da ciência”.

Como conclusão, os autores oferecem recomendações para os próximos passos dentro dessa nova era da ciência com psicodélicos: “O que é necessário agora é um programa combinado, multinível e multidisciplinar de pesquisa sobre os mecanismos que sustentam essas descobertas”.

4. O renascimento psicodélico e as limitações de uma estrutura médica dominante branca: um apelo para a inclusão de minorias indígenas e étnicas.

”The psychedelic renaissance and the limitations of a White-dominant medical framework: A call for indigenous and ethnic minority inclusion”, por JR George, TI Michaels, J Sevelius, et al. 

Os autores deste artigo destacam a falta de atenção que a comunidade psicodélica tem prestado ao trabalho dos povos indígenas, mulheres, minorias étnicas e raciais, e outras pessoas desprivilegiadas. 

Eles observam que “O progresso científico e a promessa clínica deste movimento [da ciência psicodélica] devem muito de seu sucesso à história das práticas de cura indígenas“.

O artigo discute o uso histórico de plantas psicodélicas, os fatores históricos e socioculturais que contribuíram para a privação de direitos, e dá recomendações para a criação de um foco cultural e o uso de uma abordagem inclusiva para garantir que todos os trabalhos de pesquisa recebam a devida atenção. 

Os autores ainda propõem que “o movimento da ciência psicodélica tem uma oportunidade única de reconhecer e resistir à replicação das estruturas de poder existentes, melhorando, assim, a vida dos marginalizados e dando um exemplo que pode ser replicado de forma mais ampla na medicina e na sociedade”.

(Imagem: reprodução Aeon Essays)

5. Microdosagem psicodélica: uma análise ”subreddit”

”Psychedelic microdosing: A subreddit analysis”, por T Lea, N Amada, e H Jungaberle.

Pesquisadores da Alemanha, Austrália e Estados Unidos se reuniram para conduzir uma análise de discussões sobre microdosagem no maior fórum online que existe: Reddit (por isso, o estudo foi chamado de análise ”subreddit”). 

Eles coletaram dados sobre vários aspectos de experiências de microdosagem de participantes do fórum, incluindo suas motivações, como administraram a dosagem e os benefícios e limitações gerais que perceberam.

Alguns dos benefícios relatados da microdosagem, revelados pelos dados da pesquisa, incluíram aprimoramento criativo e cognitivo, melhora do humor e atitude em relação à vida e melhores hábitos e comportamentos saudáveis. 

Alguns aspectos negativos incluíram problemas de dosagem, efeitos colaterais e aumento da ansiedade. 

Para desenvolvimento de pesquisas futuras, os autores sugeriram que “doses padrão de drogas psicodélicas fornecidas em ambientes terapêuticos têm potencial como novos tratamentos para algumas condições de saúde mental, mas a pesquisa clínica é necessária para entender se este também é o caso da microdosagem”.

(Imagem: reprodução Forbes)

6. Efeitos de longa duração das drogas psicodélicas: uma revisão sistemática

”Long-term effects of psychedelic drugs: A systematic review”, por JS Aday, CM Mitzkovitz, EK Bloesch, et al. 

Nesta revisão sistemática da literatura, os autores reuniram dados sobre os efeitos de longa duração das drogas psicodélicas, a partir de 34 estudos. 

Os critérios para inclusão de tais estudos na análise de dados foram: pesquisas com seres humanos, utilizando psicodélicos clássicos e com períodos de acompanhamento de pelo menos duas semanas. A maioria dos 34 estudos usou psilocibina e abrangeu o período dos últimos 5 anos.

Os autores observaram que o uso dos psicodélicos causaram mudanças duradouras nos participantes em várias categorias, incluindo personalidade, atitude, depressão e espiritualidade. 

Essas mudanças estavam relacionadas à experiência mística, ruptura emocional, conectividade e aumento da entropia neural. 

Os autores concluíram que “… o peso das evidências coletadas até o momento sugere que, em indivíduos cuidadosamente selecionados e monitorados, o tratamento psicodélico pode mediar mudanças no funcionamento psicológico que são geralmente positivas e duradouras”.

Fontes: Psychedelic Research Review e PreParty

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