A maconha tem aberto espaço para a ciência psicodélica na área medicinal. Mas será que a medicina canabinóide e medicina psicodélica vão trilhar o mesmo caminho?

(Imagem: reprodução Psychedelic Stock Watch)

A maconha tem sido uma influência disruptiva, como o primeiro cultivo ilegal que se tornou um mercado legalizado global e altamente lucrativo, principalmente por causa de suas propriedades terapêuticas.

A cannabis, hoje, se tornou um meio de sobrevivência para quem possui diversas condições médicas, como autismo, epilepsia, parkinson… E uma alternativa ideal para quem quer ”fugir” de medicamentos com efeitos colaterais graves, como os opióides.

Entre os avanços da cannabis e os esforços legislativos que têm contribuído para crescer a aceitação da maconha, está o ressurgimento dos psicodélicos, com aplicações promissoras também na área medicinal. 

Assim como a maconha, os psicodélicos também são substâncias com propriedades medicinais, e ambos compartilham um passado cheio de estigma, graças à Guerra às Drogas

A proibição dessas substâncias impediu qualquer pesquisa sobre os potenciais medicinais dos psicoativos. Mas, agora, com a maconha liderando pesquisas da área da saúde, os psicodélicos parecem estar conquistando espaço também.

(Imagem: reprodução The Guardian)

O caminho para aceitação

À medida que mais pesquisas começaram a crescer no início dos anos 2000, a aceitação dos psicodélicos foi auxiliada pelo trabalho dos defensores e ativistas da indústria da cannabis, que tiveram que enfrentar os mesmos obstáculos que a indústria dos psicodélicos está enfrentando.

O maior obstáculo de todos: tanto a psilocibina, quanto a maconha ainda proibidas internacionalmente, sob controle do regime de drogas da ONU. E, claro, ainda são proibidas em muitos países.

Mas a ciência está trazendo uma nova perspectiva para esse proibicionismo infundado, mostrando como essas substâncias têm grandes benefícios para a área da saúde.

Basta olhar para o aumento das pesquisas sobre maconha. De acordo com a Organização Nacional para a Reforma das Leis da Maconha (NORML), desde 2010, os cientistas publicaram mais de 23.000 artigos revisados ​​por pares sobre a cannabis, com o número anual de artigos aumentando a cada ano. Em 2020, pesquisadores em todo o mundo publicaram um recorde de mais de 3.500 artigos científicos sobre o assunto da cannabis.

A maconha inspirou mais pesquisas sobre terapias baseadas em plantas nos últimos anos, universidades renomadas ao redor do mundo já até criaram centros de estudo dedicados aos psicodélicos, como Harvard e a Universidade John Hopkins.

Dana Larsen, uma defensora da cannabis de longa data, dona de um dispensário em Vancouver, agora defende os benefícios da psilocibina. Em entrevista, ele menciona à CBC que os cogumelos com psilocibina “realmente me lembram onde o movimento da cannabis estava em, talvez, meados dos anos 90. Está apenas começando a aumentar a conscientização pública sobre os tremendos benefícios medicinais do uso dos cogumelos”.

Pavimentando o caminho da legalização

O início do movimento de legalização e descriminalização da maconha foi repleto de duras batalhas legislativas. Em muitos países, essas batalhas ainda estão em andamento.  

No entanto, a estrada pavimentada até agora teve o efeito de suavizar a entrada dos psicodélicos como outra substância ilícita pronta para iniciar o processo de legalização.

(Imagem: reprodução The Globe and Mail)

O fato de um quarto dos países do mundo já possuírem alguma legislação em relação à maconha é uma grande vantagem para a perspectiva de crescimento da indústria de psicodélicos.

Em alguns estados norte-americanos, os psicodélicos já são descriminalizados, e em vários outros está em andamento o processo de descriminalização. 

No Oregon, eles são legalizados. E 70% da população do Canadá já se mostrou a favor da legalização da psilocibina. 

No Brasil, ainda estamos batalhando pela legalização da maconha para fins medicinais, científicos e industriais. 

O futuro da psicodelia como medicina

Especialistas acreditam que ainda há muitas outras descobertas por vir na área medicinal utilizando psicodélicos. Por enquanto, o foco está no uso dessas substâncias para a saúde mental, mas inflamação e dor crônica também podem ser beneficiados com os psicodélicos.

“O desenvolvimento clínico do canabidiol (CBD) em uma terapia aprovada é um exemplo inspirador de como os medicamentos tradicionais podem ser transformados em modernos, por meio de técnicas farmacológicas avançadas, que garantem a segurança do paciente. Chegou a hora de tornar os psicodélicos, antes vistos como substâncias apenas recreativas, populares novamente”, afirmou o CEO da empresa de terapia psicodélica Eleusis. 

Sobre a legalização dos psicodélicos, o escritor Michael Pollan comenta para o New York Times a necessidade de diferenciar essas substâncias da maconha, no sentido de serem substâncias mais complexas:

“No caso dos psicodélicos, descriminalizar esses compostos poderosos é apenas o primeiro passo em um processo de descobrir a melhor forma de inserir com segurança seu uso em nossa sociedade. O principal modelo que temos para ressocializar uma droga anteriormente ilícita é a legalização da cannabis, agora, o novo normal em 18 estados, e muitos no mundo da cannabis consideram a psilocibina a próxima cannabis. Mas a perspectiva de cogumelos mágicos serem comercializados como cannabis – anunciados em outdoors e vendidos ao lado de ursinhos de goma de THC em dispensários – deve nos deixar atentos”.

Fonte: The Bluntness

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