Existem em torno de 300 variedades de mel no mundo, nenhuma é mais única do que o mel produzido pelas abelhas do Nepal.

Nas encostas das montanhas do Nepal e da Turquia, as abelhas produzem uma mistura chamada de ”mel louco” (mad honey).
É uma variedade rara de fluido natural. Em comparação com as várias centenas de outros tipos de mel produzidos em todo o mundo, o mad honey é mais vermelho e um pouco mais amargo, e vem da maior abelha melífera do mundo, Apis dorsata laboriosa.

O que é o mad honey
Os efeitos psicoativos dessa variedade de mel provêm não das abelhas, mas daquilo de que as abelhas se alimentam em certas regiões: um gênero de plantas com flores chamado rododendros.
Todas as espécies dessas plantas contêm um grupo de compostos neurotóxicos chamados grayanotoxinas. Quando as abelhas se alimentam do néctar e pólen de certos tipos de rododendros, os insetos ingerem grayanotoxinas, que acabam chegando ao mel das abelhas, tornando-o ”psicoativo”.

A escolha das abelhas por se alimentar dos rododendros tem a ver com a escassez de alimento para esses insetos na região, portanto, com menos tipos de plantas para se alimentar, as abelhas se alimentam quase exclusivamente de rododendros. O resultado disso é o mad honey.
Mas, acessar os favos de mel que contêm dessa variedade pode ser difícil. Um dos motivos é que os rododendros crescem melhor em altitudes mais elevadas, e as abelhas costumam construir suas colmeias em penhascos próximos às plantas, o que significa que os colhedores precisam escalar montanhas para colher o mel.
O risco vale a pena para os colhedores ousados. O The Guardian relatou que um quilo de mad honey de alta qualidade pode ser vendido por cerca de US $ 360 em lojas ao redor da Turquia, enquanto a National Geographic observou que meio quilo de ”mel louco” sai por cerca de US $ 60 nos mercados negros asiáticos. Em geral, o valor dessa variedade rara e exclusiva é muito superior ao do mel normal.


Apicultores no Nepal e na Turquia se arriscam na colheita, embora represente uma pequena fração da produção total de mel das nações. Ambos os países permitem a produção, venda e exportação de mel louco, mas a substância é ilegal em outras nações.
A dificuldade de conseguir o mel o torna valioso. Mas, além disso, muitas pessoas acreditam que o mad honey tem mais valor medicinal do que o mel comum, o que também o encarece.
Na região do Mar Negro e além, as pessoas o usam para tratar doenças como hipertensão, diabetes, artrite e dor de garganta, embora a pesquisa sobre os benefícios médicos do mel alucinógeno do Nepal e da Turquia não seja clara.
No nordeste da Ásia, alguns compradores acreditam que o ”mel louco” trata a disfunção erétil, o que pode explicar por que a maioria dos casos de envenenamento pelo alimento envolvem homens de meia-idade, conforme observado em um relatório publicado na revista RSC Advances.
Como esse mel age
Embora os benefícios medicinais dessa variedade de mel não sejam claros, o que é certo é que os humanos podem ser envenenados por consumir muita grayanotoxina (princípio ativo do mad honey), o que pode causar diminuições perigosas da pressão arterial e da frequência cardíaca.
Isso porque a grayanotoxina pode ser tóxica para o organismo em altas concentrações, podendo levar a suador intenso, salivação, náusea, alucinações e mal-estar. Os efeitos podem durar até 24 horas.
Os efeitos dependem muito da quantidade grayatoxinas no mel e, claro, da quantidade de mel ingerido.
Relatos
O que realmente distingue o mel louco são seus efeitos fisiológicos. Em doses mais baixas, a variedade causa tonturas, vertigens e euforia. Doses mais altas podem causar alucinações, vômitos, perda de consciência, convulsões e, em casos raros, morte.
Um produtor da Vice viajou até o Nepal e experimentou o mad honey. Em seu relato, ele comenta ”comi duas colheres de chá, a quantidade recomendada pelos caçadores de mel, e depois de cerca de 15 minutos, comecei a sentir uma sensação semelhante à da maconha”.
“Eu senti como se meu corpo estivesse esfriando, começando na parte de trás da minha cabeça e descendo pelo meu torso. Uma sensação profunda e gelada se instalou em meu estômago e durou várias horas. O mel estava delicioso e, embora alguns dos caçadores desmaiassem por comer um pouco demais, ninguém sofreu de vômito ou diarreia sobre a qual fui avisado”.
Um outro relato mostra que as sensações podem, de fato, ser parecidas com a cannabis: ”em 40 minutos, eu podia sentir o mel subindo em mim. A parte de trás da minha cabeça começou a formigar, como se eu estivesse recebendo uma massagem no couro cabeludo. Então, de dentro, senti um calor em volta do meu coração, no meu peito e abdômen. As coisas desaceleraram um pouco e meu estado de espírito ficou tranquilo. Quando saímos do local, eu estava me sentindo bem e estranho”.
“Não houve nada visual, no entanto. A sensação é muito mais corporal e mental; uma sensação de calor e relaxamento mais como um sedativo do que seu psicodélico convencional”.
Por outro lado, no site da ONG de pesquisa sobre psicodélicos erowid.org, alguns relatos não são nada animadores: um usuário comenta que teve uma ”viagem” terrível com o mel e não recomenda. Outro usuário também desencoraja a experiência: ”os sintomas podem parecer fatais, espero que meu relato ajude algum pobre coitado por aí a não cometer o mesmo erro [de experimentar]”.
E você, encararia o mad honey?
Fonte: Big Think