Com a pandemia, tudo mudou: as drogas que são consumidas, a forma de obtê-las e até a forma de produzi-las e transportá-las.

(Imagem: reprodução The Conversation)

Com o isolamento social, festas, raves, festivais e shows ficaram sem acontecer por um bom tempo.

Sem esses espaços e eventos, o consumo de drogas recreativas (como LSD, MDMA e cocaína) teve uma grande queda. Afinal, consumir ecstasy em uma festa é uma coisa, usar em casa, sozinho ou com poucas pessoas, é outra.

De acordo com o Relatório Mundial de Drogas da ONU, de 2021, apenas entre abril e maio de 2020 (nos Estados Unidos, onde foram coletados os dados), a frequência do uso de cocaína diminuiu 79%, no caso do MDMA em 71% e no caso do LSD em cerca de 68%.

Na América Latina, a tendência também tem sido a de trocar as drogas estimulantes pelas relaxantes, como os benzodiazepínicos e outros sedativos farmacêuticos que foram consumidos até 64% a mais que antes, e a cannabis (que também teve aumento de consumo).

O relatório traz dados sobre o que aconteceu com as drogas globalmente devido à pandemia: desde como afetou a produção e o tráfico até a maneira como mudou os hábitos de compra e consumo. Segundo o documento, algumas das mudanças que ocorreram com a pandemia, vieram para ficar.

E-commerce de drogas

Nos tornamos dependentes da Internet para trabalhar, estudar e comprar, de forma que o isolamento social acelerou as mudanças tecnológicas e o comércio eletrônico. As drogas não poderiam ficar de fora.

Nos acostumamos a fazer compras online e receber na porta de casa e o comércio de substâncias ilícitas se adaptou a essa realidade. O modus operandi, agora, é vender as drogas online e entregar na casa dos compradores: os produtos são enviados em pacotes disfarçados, pelo correio ou por delivery.

(Imagem: reprodução Quartz)

Ajuste de preços

Porém, apesar de ter se tornado um pouco mais fácil o acesso (afinal, você pode receber na porta de casa com um clique ou uma mensagem), os preços parecem ser o novo obstáculo, bem mais altos que antes, em diversas regiões do mundo. E a pandemia é o motivo do aumento.

As medidas sanitárias afetaram toda a cadeia produtiva das substâncias ilícitas:

  • o cultivo
  • o acesso dos distribuidores aos produtos
  • falta de compradores (por conta da queda da demanda)
  • o inconveniente de entregar os produtos com fronteiras fechadas
  • controles reforçados nos mega aeroportos
  • baixa frequência dos voos

Como resultado desse efeito dominó causado pelo isolamento social, toda a rede de distribuição foi afetada, o que mostrou a praticidade de traficar pela deep web e fazer entregas por encomenda.

Mas, todos os reajustes que precisaram ser feitos e a queda na demanda ocasionaram aumento no preço final dos produtos.

Novo normal

Algumas outras mudanças marcantes foram:

  • os produtores de drogas começaram a buscar distribuidores de matéria prima mais próximos e mais baratos
  • na Europa, grupos do crime organizado contrataram produtores próprios para fabricar e não ter que importar
  • os narcotraficantes passaram a optar por contêineres, barcos não comerciais e semi-submersíveis para transportar as substâncias ilícitas, o que deu origem à movimentação de maiores quantidades de drogas

“Com as restrições de mobilidade, as drogas começaram a ser encomendados mais pela Internet e usando serviços comuns de encomendas [como o Sedex]. Para a produção de drogas, toda a questão dos precursores continua sendo por meio de mecanismos legais de comércio, já que muitos dos precursores químicos não são ilegais”, afirma Javier Hernández, Chefe dos Programas de Drogas e Crime Organizado do Escritório da ONU (UNODC) à VICE.

“A comunidade internacional, dá o alerta e acompanha os casos [de narcotráfico], mas as autoridades nacionais também são obrigadas a acompanhar e iniciar as investigações pertinentes”, explica Hernández.

Ou seja, o narcotráfico sempre vai adaptar de acordo com o cenário.

(Imagem: reprodução The Print)

A indústria das drogas ilegais tem se mostrado mais resiliente do que qualquer economia do primeiro mundo, adaptando-se em tempo real às necessidades, resolvendo problemas.

A demanda – por mais que diminua por um tempo – vai voltar (como já está acontecendo agora) e o narcotráfico vai estar pronto e mais especializado para suprir.

Efeitos pandêmicos

A pandemia criou uma dupla necessidade: por um lado, pessoas em busca de uma solução pelo menos temporária para a angústia, sofrimento e medo causados pela pandemia, e por outro, desempregados e marginalizados do sistema que viram a necessidade de trabalhar pela única coisa que parece não cair mesmo na pior das crises: o tráfico.

A ONU estima que o uso de drogas ilícitas terá um grande aumento em todo o mundo nos próximos anos.

O proibicionismo se torna cada vez mais impotente frente a uma sociedade com cada vez mais males que a aflige, que tende a buscar – de maneira crescente – fugas da realidade, ainda que momentâneas, proporcionadas por substâncias ilícitas.

Ao mesmo tempo, existe uma rede robusta pronta para fornecer tais substâncias – há apenas um clique de distância.

Fonte: Vice

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