Estudos recentes comprovaram a presença de drogas lícitas e ilícitas em rios da Europa, o que prejudica todo o ecossistema desses espaços.

(Imagem: reprodução BBC)

As estações de tratamento de esgoto não filtram as substâncias ilícitas que são excretadas por nós – elas nunca foram projetadas para isso.

Muitos esgotos chegam aos rios e águas costeiras sem tratamento. Uma vez no meio ambiente, as drogas e seus subprodutos podem afetar a vida de animais destes espaços.

Trutas viciadas em metanfetamina

Um estudo de 2021, divulgado pela BBC, mostrou que águas contaminadas com metanfetamina estariam afetando a truta marrom selvagem.

Foram consideradas concentrações de drogas ilícitas medidas em cursos d’água e detectaram essas substâncias nos cérebros de truta marrom.

Eles também analisaram se essas concentrações eram suficientes para fazer com que os animais se tornassem viciados.

No estudo, os peixes expostos à metanfetamina preferiram a água contendo a droga. A química cerebral dos peixes também apresentou alterações. Isso sugere que a exposição à metanfetamina pode ter efeitos duradouros, semelhantes aos observados nas pessoas.

O vício pode ser herdado ao longo de várias gerações. Isso poderia ter implicações duradouras para os ecossistemas, mesmo que o problema fosse resolvido agora.

Esse estudo foi importante para mostrar que é possível que essa espécie de peixes comece a mudar seu comportamento natural, causando problemas com sua alimentação, reprodução e, até mesmo, sua sobrevivência.

Crustáceos do Reino Unido contaminados com 67 substâncias

Uma notícia recente divulgou um estudo de 2019 comprovando que crustáceos de rios da Inglaterra testaram positivo para diversas drogas ilícitas, como cocaína, e outras controladas, a exemplo da cetamina, Diazepam, Xanax e Tramadol.

Os pesquisadores analisaram crustáceos da espécie Gammarus pulex (parentes próximos dos camarões), em 15 cursos de água do condado de Suffolk, na Inglaterra. As pesquisas detectaram 67 substâncias químicas que contaminaram os crustáceos — a mais comum foi a cocaína, que estava presente em todos os animais analisados.

Outros estudos serão feitos para tentar descobrir possíveis consequências dessas substâncias na fauna aquática.

O resultado foi considerado surpreendente por dois motivos. O primeiro é que os rios são do condado Suffolk, com quase 750.000 habitantes, uma região bem menos agitada e urbana que Londres, por exemplo.

O segundo detalhe é que os crusáceos também tinham vestígios de pesticidas proibidos há vários anos no Reino Unido e União Europeia — o principal deles é o fenuron. Não se sabe ainda se alguém está usando irregularmente a substância ou se o químico permanece na natureza por tempo indeterminado.

Medicamentos

Como mencionado, nos crustáceos do Reino Unido também foram detectadas substâncias farmacêuticas.

Esses medicamentos também não se decompõem totalmente em nossos corpos e chegam às estações de tratamento. A maioria é despejada com efluentes de águas residuais.

Animais selvagens que vivem em rios e águas costeiras onde os efluentes são lançados são expostos a coquetéis de medicamentos, de analgésicos a antidepressivos.

Peixes que vivem próximos a algumas estações de tratamento de água mudaram de sexo de macho para fêmea em poucas semanas devido à exposição a substâncias químicas de hormônios encontradas em pílulas anticoncepcionais.

Estudos recentes mostraram que os antidepressivos, por exemplo, podem causar uma ampla gama de alterações comportamentais em organismos aquáticos.

Pode parecer óbvio que drogas (legais e ilegais) que podem mudar o comportamento em humanos também mudam o comportamento da vida selvagem. Mas esse problema é muito mais complexo.

Um grupo internacional de cientistas pediu às empresas e órgãos reguladores que verifiquem seu efeito tóxico sobre o comportamento como parte das avaliações de risco de novos produtos químicos.

Além disso, a filtragem nas estações de tratamento de esgoto devem melhorar, forçando as empresas da área a garantir que os efluentes não afetem a vida selvagem.

Fontes: BBC e R7 | Imagem de capa: reprodução NewScientist

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