Os cogumelos mágicos, cujo princípio ativo é a psilocibina, sempre tiveram destaque: tanto por conta das suas propriedades alucinógenas, quanto pela iminência na área da saúde mental.

Porém, vários de seus ”parentes” estão sendo investigados para tratar condições comuns de saúde e distúrbios neurodegenerativos.

A psilocibina, um composto psicoativo encontrado em algumas espécies psicodélicas de fungos, recebeu muita atenção nos últimos anos por seu potencial no tratamento de condições de saúde mental como ansiedade, depressão e Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).

Mas não são apenas os cogumelos psicodélicos que podem trazer grandes benefícios ao cérebro: cientistas também estão investigando uma série de outras espécies de cogumelos que podem ajudar a combater condições que afetam a mente, como distúrbios neurodegenerativos (Alzheimer e Parkinson, por exemplo) e outras doenças mentais comuns.

A verdade é que os fungos há muito atraem pesquisas científicas.

Para começar, eles são conhecidos por oferecer diversas (e poderosas) coleções de compostos chamados metabólitos secundários, que os ajudam a competir e sobreviver na natureza. Esses compostos, os metabólitos, já nos forneceram uma série de medicamentos que salvam vidas, como o antibiótico penicilina, o tratamento quimioterápico Taxol e o medicamento para colesterol Lovastatina.

O potencial dos fungos

O reino Fungi, que abriga todos os tipos de fungos, têm sido explorado há bastante tempo por suas propriedades medicinais e até mesmo na culinária.

Por exemplo, o reishi , um dos cogumelos medicinais mais famosos, fortalece as defesas e previne o envelhecimento. O cogumelo maitake ajuda a combater a diabetes; e cogumelos shiitake são uma excelente fonte de vitaminas, minerais e antioxidantes. Por outro lado, o fermento de arroz vermelho pode diminuir os níveis de colesterol no sangue, enquanto o fermento de cerveja pode ser benéfico para a pele e o cabelo.

Embora estudos epidemiológicos recentes tenham identificado uma possível ligação entre o consumo regular de cogumelos e um risco reduzido de declínio cognitivo, os pesquisadores esperam incorporar os poderosos compostos derivados de fungos em tratamentos mais direcionados. Atualmente, a grande maioria dos estudos analisou os efeitos de extratos de fungos e certos compostos isolados em células e roedores. Mas ainda existem poucos estudos em humanos.

Ainda assim, alguns resultados têm sido animadores. Aqui estão algumas variedades que estão sendo estudadas atualmente por seus potenciais benefícios para o cérebro:

Shiitake

Um dos cogumelos comestíveis mais populares em todo o mundo, que também está sendo estudado em laboratórios por suas possíveis aplicações neurológicas.

Os Shiitakes possuem carboidratos chamados polissacarídeos, especificamente beta-glucanos, que também são encontrados nas paredes celulares de vários fungos. Os beta-glucanos possuem diversos benefícios, incluindo sua capacidade de reduzir a inflamação, regular o sistema imunológico e combater infecções.

Cientistas descobriram que os beta-glucanos podem melhorar a diversidade do microbioma intestinal em camundongos. Esta é uma vitória para o cérebro, porque os dois estão intimamente ligados por meio de um canal de comunicação bidirecional chamado eixo intestino-cérebro.

Alimentar camundongos com beta-glucanos de cogumelos Shiitake ajudou a neutralizar as deficiências cognitivas causadas por uma dieta rica em gordura – que causa inflamação no cérebro -, conforme descobriu um estudo de 2021.

Juba de Leão

O Hericium erinaceus, de aparência peluda, comumente referido como Juba de Leão, é encontrado na Ásia, Europa e América do Norte em árvores em decomposição ou mortas.

Uma pesquisa indicou que esse fungo pode ajudar a tratar ou prevenir várias condições de saúde, incluindo câncer, diabetes e colesterol alto.

Dentre outros cogumelos com propriedades medicinais, o Juba de Leão tem recebido particular atenção pelos seus potenciais neuroprotetores. Alguns de seus compostos químicos podem promover o crescimento celular, combater a inflamação e regular as vias de recompensa dentro do cérebro.

Estudos em camundongos e células humanas sugeriram que esse cogumelo pode melhorar a função mental em pessoas com Alzheimer e ajudar a tratar a epilepsia. Pequenos testes em humanos sugerem que ele pode mitigar a depressão, melhorar a qualidade do sono e aliviar o declínio cognitivo em estágio inicial, mas os pesquisadores apontam que são necessários estudos mais rigorosos em pessoas.

Cordyceps

(Imagem: reprodução Mushroom Revival)

Este gênero parasita de fungo é conhecido por ser terrível. Por exemplo, as espécies Ophiocordyceps unilateralis podem se infiltrar nos corpos das formigas através de esporos e transformá-las em “zumbis” antes de brotarem das cabeças dos insetos. O Cordyceps até inspirou uma série de videogames de terror com tema de zumbi (The Last of Us).

Apesar de seu comportamento assustador em relação aos insetos, os humanos há muito valorizam esses fungos.

A medicina chinesa tem usado a espécie Ophiocordyceps sinensis para promover a saúde dos pulmões e rins desde, pelo menos, o século XVIII. F

Formas naturais do Cordyceps, que crescem no planalto tibetano e no Himalaia, em mariposas fantasmas, podem custar até US$ 63.000 o quilo. As equipes de pesquisa, portanto, geralmente estudam amostras dessa espécie que foram cultivadas em laboratórios.

Nos últimos anos, várias variedades de Cordyceps foram estudadas por suas propriedades anti-inflamatórias, antitumorais, reguladoras do sistema imunológico e neuroprotetoras, entre outras.

Acredita-se que seus vários poderes venham de um composto único chamado cordicepina, juntamente com polissacarídeos e esteróis, que são um pouco semelhantes ao colesterol produzido pelos humanos.

Experimentos com modelos animais demonstraram que os compostos dentro do Cordyceps podem ajudar a mitigar o comprometimento do aprendizado e da memória, sintomas associados a doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson. Isso pode ocorrer através de vários mecanismos, incluindo a capacidade da cordicepina de prevenir a morte celular neuronal.

Chaga

(Imagem: reprodução Hierophant)

O fungo Inonotus obliquus, comumente chamado de Chaga, geralmente cresce como parasita em bétulas, em climas frios.

Há muito tempo foi incorporado na medicina popular na China, Coréia, Japão e Europa Oriental. Fontes históricas afirmam que o príncipe Vladimir Monomakh, de Kiev, no século XII, usou Chaga para se livrar de um tumor no lábio.

Tal como acontece com os outros fungos nesta lista, os polissacarídeos dentro desse fungo podem oferecer uma série de propriedades úteis, incluindo efeitos antitumorais, anti-fadiga, antioxidantes, antivirais e anti-inflamatórios.

Até agora, os compostos isolados do chaga demonstraram proteger contra as doenças de Alzheimer e Parkinson em estudos celulares, mitigando o estresse oxidativo, que pode causar excesso de moléculas instáveis chamadas radicais livres para atacar as células cerebrais.

Porém, o Chaga ainda não parece ter sido testado em humanos.

Reishi

Conhecido como o “Cogumelo da Imortalidade” na Coréia e na China, o Reishi, ou Ganoderma lucidum, brota em árvores moribundas ou mortas, incluindo bordo, olmo e carvalho.

Na medicina chinesa, o Reishi é usado para aumentar a saúde geral e a longevidade.

Assim como os outros fungos o Reishi deve suas propriedades medicinais a substâncias como esteróis, polissacarídeos e peptídeos.

Esse cogumelo oferece vários benefícios, como efeitos sedativos, anti-inflamatórios, antivirais e antitumorais. Evidências sugerem que pode ser um tratamento útil para condições neurodegenerativas. Estudos realizados em células e animais destacaram a possibilidade de que os polissacarídeos do Ganoderma lucidum possam, por exemplo, retardar a progressão da doença de Alzheimer. Essas substâncias podem estimular o crescimento de neurônios no cérebro e aliviar o declínio cognitivo.

Os resultados em humanos, no entanto, não foram tão promissores. Um experimento inédito com 42 pessoas com doença de Alzheimer descobriu que o pó de esporos feito de G. lucidum não conseguiu melhorar os sintomas ou melhorar as medidas de qualidade de vida dos pacientes, de acordo com um estudo de 2018. Mas os autores observaram que foi um breve período de tratamento (seis semanas) e um pequeno tamanho da amostra.

Se pesquisas futuras forem bem-sucedidas (e, de fato, mais pesquisas são necessárias), esse cogumelo talvez possa ser uma alternativa a antidepressivos amplamente prescritos. Os extratos de Reishi parecem exibir um efeito comparável ao da fluoxetina SSRI, conforme comprovado em estudos de 2017 e 2021, realizados em camundongos. Seu parente Ganoderma applanatum também pode ajudar a aliviar a depressão e a ansiedade, de acordo com outro experimento com ratos.

E em um estudo de 2011, que avaliou o efeito do Reishi na fadiga em pacientes com câncer de mama, os participantes relataram redução da ansiedade e depressão.

Fonte: Discover Magazine

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