Recentemente, um esportista brasileiro com Síndrome de Tourette foi campeão nacional de remo graças à cannabis.

Entenda mais sobre essa condição e os benefícios da erva para o tratamento.

A síndrome de Tourette (ST) é um distúrbio neuropsiquiátrico complexo, que se caracteriza por tiques involuntários, motores ou vocais.

Em alguns casos, está associada a sintomas obsessivo-compulsivos (TOC) e ao distúrbio de atenção com hiperatividade (TDAH).

A gravidade desta condição varia amplamente entre os pacientes. Embora não haja cura para a síndrome de Tourette, existem tratamentos para melhorar os sintomas.

O uso da maconha como opção de tratamento tem se mostrado promissor.

Um dos primeiros estudos que documentam a eficácia do THC para a ST aparece no American Journal of Psychiatry, em 1999.

Investigadores da Escola Médica Alemã de Hanover relataram tratamento bem-sucedido da síndrome de Tourette com uma dose única de 10 mg de delta-9-THC em um paciente do sexo masculino de 25 anos em um ensaio clínico aberto não controlado.

Investigadores relataram que a pontuação total de gravidade do tique do paciente caiu de 41 para 7 dentro de duas horas após a terapia com o canabinóide, e essa melhora foi observada por um total de sete horas. “Pela primeira vez, as experiências subjetivas dos pacientes ao fumar maconha foram confirmadas usando uma escala de classificação válida e confiável”, concluíram os autores.

Em 2002, pesquisadores confirmaram esta descoberta inicial em um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, usando uma dose única de THC em 12 pacientes adultos com ST.

Os pesquisadores relataram uma “melhora significativa dos tiques e do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) após o tratamento com delta-9-THC em comparação com placebo”. Por fim, não relataram comprometimento cognitivo em indivíduos após a administração de THC e concluíram que ”é eficaz e seguro no tratamento de tiques e TOC em ST”.

Outros estudos surgiram nos anos subsequentes avaliando a real eficácia do canabinóide para tratar sintomas da síndrome de Tourette.

Todos indicaram melhora nos tiques a longo prazo, após tratamento com maconha. Além disso, as pesquisas também atestaram que não houveram efeitos prejudiciais à nível cognitivo nos pacientes.

Um estudo de caso de 2016 relatou que a administração duas vezes ao dia de extratos de canabinóides em um paciente com ST resistente ao tratamento foi associada a uma redução de 85% nos tiques motores do sujeito e a uma redução de 90% nos tiques vocais. Os autores concluíram: “Nossos resultados apoiam pesquisas anteriores sugerindo que os canabinóides são um tratamento seguro e eficaz para ST e devem ser considerados em casos resistentes ao tratamento”.

Em 2017, pesquisadores da Universidade de Toronto avaliaram retrospectivamente a segurança e eficácia da cannabis inalada em 19 pacientes com ST. Os pesquisadores relataram: “Todos os participantes do estudo experimentaram alívio clinicamente significativo dos sintomas”, incluindo reduções nos sintomas obsessivo-compulsivos, impulsividade, ansiedade, irritabilidade e explosões de raiva. Dezoito dos 19 pacientes apresentaram diminuição da gravidade dos tiques. Eles concluíram: “No geral, esses participantes do estudo experimentaram melhorias substanciais em seus sintomas. Isso é particularmente impressionante, uma vez que quase todos os participantes falharam em pelo menos um teste de medicação anti-tique. (…) Em conclusão, a cannabis parece ser uma opção de tratamento promissora para tiques e sintomas associados”.

Mais pesquisas surgem a cada dia mostrando como a cannabis, além de melhorar os sintomas associados à síndrome de Tourette, melhora a qualidade de vida dos pacientes que tratam a condição com canabinóides.

Como foi o caso do atleta brasileiro Tomás Levy.

Campeão nacional graças à maconha

Uma reportagem recente do UOL conta a história do Paulistano de 20 anos, remador do Corinthians, Tomás Levy, que tem síndrome de Tourette.

O atleta ”teve os primeiros sintomas aos 4 anos, a fase mais aguda a partir dos 12, chegou a se contorcer no chão durante a adolescência, quando também desenvolveu síndrome do pânico, e voltou a melhorar aos 16”.

Apesar dos tiques faciais, vocais e o TOC continuarem presentes, foram atenuados com o uso terapêutico da maconha.

”Eu tomo vários remédios, mas o THC e o CBD juntos funcionam como nenhum igual. Quem está do meu lado percebe nitidamente a diferença, principalmente dos tiques. Eu me sinto mais calmo. Eu sou ligado no 220, sou meio impulsivo, de ‘ai meu Deus, preciso fazer isso daqui’. Com a cannabis, acabo refletindo melhor sobre as coisas, tenho foco maior. Eu também tenho um pouco de Déficit de Atenção, não conseguia focar, na escola era uma desgraça. Quando eu estou sob o efeito (da medicação), eu viro outra pessoa”, conta ao portal UOL.

(Imagem: reprodução UOL)

Em relação ao esporte, Tomás pratica o remo desde os 12 anos e faz parte da equipe do Corinthians, desde 2016.

”Os tiques, em si, nunca foram um problema nas provas, uma vez que, extremamente concentrado, Tom não os tem em competições — o mesmo acontece quando ele toca piano ou medita. Mas a Tourette também gera muita ansiedade, o que a cannabis medicinal ameniza”.

Portanto, a ansiedade e nervosismo sempre foram os maiores obstáculos em competições para Tomás, que já perdeu alguns campeonatos por conta disso. Mas a maconha o ajudou muito nesse sentido.

“Melhora meu rendimento e minha qualidade de vida. Está tudo muito ligado, porque se eu estiver em uma fase ruim, o treino vai ser um cocô. A cannabis me ajuda muito e acho que é um passo superimportante. Não é que tomo e viro um super-herói. Mas é, dos remédios, o que está me fazendo melhor”, detalha.

Nas competições, apenas o CBD é autorizado pelo código antidoping atualizado. O THC não pode ser consumido em épocas de competição.

Por isso, Tomás tem que deixar de se medicar com o tetrahidrocanabinol em campeonatos. Segundo o atleta, “Duas semanas antes [da competição nacional], eu estava com THC ainda, estava me sentindo muito tranquilo. Mas tive que parar e comecei a piorar. Agora vou voltar a tomar”.

Mesmo assim, ele foi campeão do Campeonato Brasileiro de Barcos Curtos no single skiff.

Seu objetivo maior é ”dar visibilidade à causa das pessoas com Tourette”.

“Imagina um menino que tem Tourette ver alguém com Tourette que foi campeão brasileiro, foi para as Olimpíadas. Tem também a questão do diagnóstico. Muita gente não sabe que tem Tourette”, finaliza.

Mais um exemplo de como a maconha é uma medicina poderosa, em todos seus espectros.

A eficácia do tratamento na síndrome de Tourette é mais uma evidência de que toda a planta é medicinal, não apenas o CBD.

Infelizmente, o THC ainda é bastante estigmatizado por conta de suas propriedades psicoativas, mas casos como o do Tomás mostram que o tetrahidrocanabinol é também um canabinóide terapêutico fundamental para a área da saúde.

Fontes: NORML e UOL

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