Vem saber tudo o que rolou no evento!

O III Seminário Internacional Cannabis Medicinal: Um Olhar Para o Futuro aconteceu nos dias 9 e 10 de julho no MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
O evento promoveu diálogos construtivos sobre o uso medicinal da Cannabis, trazendo informações sobre saúde pública, acesso, pesquisa e regulação e contando com a participação de pesquisadores, diferentes atores políticos e a sociedade em geral.
Eu chegay ao evento, no MAM Rio, afobada! Depois de uma falha no meu cadastramento que me deixou doida logo às oito da manhã, passei adiante e, atenta ao possível e merecido protesto anunciado por Gabiweed no dia anterior (o que não se confirmou), caminhei em direção à sala de conferências onde aconteceriam as palestras. Acompanhei o evento e selecionei algumas palestras pra resumir e compartir esse conteúdo com vocês.
Já na sala de conferências, Margarete Brito (diretora executiva da Apepi) foi a primeira anunciada, com muitos aplausos e alguns gritos que me deixaram confusa, se foram de excitação ou de reprovação.
Após uma breve abertura, ela informou que Nisia Trindade, presidente da FioCruz, não compareceria por questões médicas. Diante do inesperado cancelamento da presidente, o substituto Marcos assumiu o microfone, em nome da FioCruz, e fez um discurso exaltando a pesquisa, a ciência e a cannabis, informando que a entidade focará seus esforços em aprofundar seus investimentos nas mesmas, visando gerar mais informações sobre a cannabis e beneficiando, assim, toda a sociedade.
Durante seu discurso, ele ressaltou a importância da participação da comunidade negra e das favelas tão atingidas pela guerra às drogas no movimento de legalização da cannabis. Nós, a comunidade cannábica, temos que estar de olho e assegurar que essa participação seja efetiva.
Após gritar pela planta, pela democracia e pelo SUS, ele encerrou com muitos aplausos.
No intervalo que precedia a palestra de Sidarta Ribeiro, os comentários sobre o cartilha do Governo Federal “Os riscos do uso da maconha na família, na infância e na juventude” dominaram o ambiente (Inclusive, indico a leitura, importante ter conhecimento de como esse governo enxerga a questão da cannabis).
Na continuação Sidarta Ribeiro faz sua apresentação com o tema: “Maconha, o remédio do século XXI”.
Sidarta iniciou fazendo uma comparação histórica entre a capoeira e a maconha, lembrando que em certo momento histórico simplesmente andar com um berimbau poderia ser motivo suficiente para ser preso, mesmo não havendo base legal para tanto, mas havendo uma aceitação tácita de tal ação e um preconceito social com a mesma.
Discorrendo sobre mudanças sociais e processos de domesticação tanto de animais de como plantas, ele explicou como chegamos a domesticação da cannabis a partir de suas origens na região do Himalaia.
Segundo ele, essa domesticação data do inicio do período neolítico. Há a milhares de anos a maconha já era separada entre as fibrosas e as que produziam muita resina. Sidarta discorreu sobre as propriedades da planta, deixando claro que seu uso medicinal foi alvo do que se pode chamar de ”neuro ciência”, à época.
Chegando mais próximo ao presente, algumas décadas atrás quando a planta passou a enfrentar uma campanha de demonização e sua consequente proibição, o que gerou a glorificação de outras substâncias como o álcool e tabaco. Tratando de provar seu ponto, Sidarta expõe slides com campanhas publicitárias de tabaco que incluíam até mesmo bebês.
Mais adiante, já falando especificamente sobre o fator medicinal da planta, entramos no assunto ”Grupos de risco”. Importante, segundo Sidarta, ressaltar que mesmo um remédio potente e eficaz como a maconha não é indicado para todes. Algumas pessoas devem ser excluídas do uso da planta, são elas:
- Pessoas com tendencias a psicose
- Gestantes e lactantes
- Jovens (adolescentes)
- Pessoas com depressão
“O sistema endocanabinóide e seus receptores CB1 e CB2 mostram que nosso corpo produz uma grande variedade de canabinóides, deixando claro à ciência a ligação que nossos corpos têm com a planta”, ele concluiu.
Sidarta segue defendendo a planta e seu uso, baseado em documentação científica de estudos ao longo da história, passando por universidades israelenses, britânicas e americanas. Várias doenças entram nesse campo como, por exemplo, epilepsia, depressão, de Alzheimer e Parkinson.
Estudos mostrando resultados positivos contra o crescimento de tumores cancerígenos, uso positivo pra regulação do sono, seguem alicercando sua exibição. Interessante dica dada por ele, “Lembrando que o uso do THC diminui a capacidade de lembrar-se do sonhos, nesse caso o indicado é fazer uso da planta algumas horas antes de dormir.”
Continuando – e mais à frente no tempo – Sidarta disse que com o avanço da legalidade e das pesquisas, uma mudança social e política em torno da cannabis passou a existir.
Sidarta dispara: “O acesso às classes sociais mais ricas já está garantido há mais de 5 anos nas farmácias brasileiras”. E euzinha pergunto: o que isso diz sobre nós?
O acesso à classe média veio através das associações. O acesso universal está sendo construído via SUS e o direito de produção do próprio remédio é garantido através de HC e do autocultivo.
Já se aproximando do encerramento, Sidarta ataca a política de drogas e a classifica como ”enxugar gelo”. Ele fez referência ao caso Agatha Felix, morta por bala perdida, disparada pela polícia carioca. Agatha tinha 8 anos de idade e estava dentro da perua escolar.
Os desafios do cultivo no Brasil
Alex Pimentel, esse paraibano querido é engenheiro agrônomo e técnico em controle ambiental. Ele, hoje, faz parte da equipe de cultivadores da Abrace Esperança e como euzinha sou cultivadora também, não podia perder esse bate papo. Corri para a sala de conferências e anotei o que pude para contar pra vocês.

Alex começa falando sobre a montagem do cultivo, estrutura e equipe. No caso de uma associação, o cultivo é majoritariamente outdoor e o método de propagação é o clone.
O próximo assunto foi a necessidade de regulamentação, de leis, de uma estrutura de estado que sirva de fundação para a indústria cannábica.
Pois é, e também faltam diretrizes sobre fiscalização dos processos envolvidos no cultivo e processamento da cannabis, bem como estabelecer dados referentes a qualidade da produção da planta.
Muitas das práticas usadas hoje na indústria cannábica são, na verdade, adaptadas de outros cultivos, como soja e milho, por conta da falta de legislação específica.
E a reclamação segue, e com razão! “Nosso cenário atual fomenta a dificuldade no momento de procurar estabelecer parcerias locais.”
A palestra se desenvolveu e outros assuntos foram abordados, mas eu vou direto ao melhor do bolo: o cultivo. Vou resumir para os cultivazinhos maconheirinhos as considerações gerais do brabo!
Na hora de montar a sua estrutura de cultivo, vale a pena começar falando dos desafios impostos pela natureza, especialmente sendo um cultivo outdoor.
Dentre eles está a sua localização, o que determina as horas de luz, fator primordial pro cultivo. Esse fator é especialmente importante dependendo do objetivo do cultivo, plantas que resinam muito necessitam de ainda mais luz. Falando sobre solo, Alex destacou a importância de estudar o solo, conhecer suas propriedades, aeração do solo e controle de pragas.
A nível tecnológico, o cultivo da cannabis pode se apropriar de equipamentos usados para o cultivo de outras plantas, que fornecem dados sobre temperatura, luz, vento, umidade, etc.
Um debate importante entre o orgânico e o agroecológico que se explica no impacto que os materiais usados em cada cultivo têm no meio ambiente. Por impacto podemos dizer os resíduos gerados tanto no uso como na produção desses materiais, um exemplo seria o esterco de vaca.
Conheça alguns termos usados no cultivo de larga escala da cannabis:
- Jardim Clonal
- Plantas Companheiras
- Anel de proteção
- Insetos protetores
Esses foram os highlights do primeiro dia, a programação continuou no segundo dia de evento, com muita informação!
(Imagem de capa: Raissa Noleto)
Parabéns pelo conteúdo! #legalize