A extração canábica lendária que deu origem aos modernos concentrados da maconha.

Haxixe, ou hash, é produzido pressionando ou esfregando as glândulas de resina de uma planta de cannabis (os tricomas) para formar um concentrado de canabinóides e terpenóides.
Embora os concentrados sejam populares hoje, principalmente onde a maconha é legalizada, o haxixe tem uma longa história.
Primórdios do hash
A história do uso de cannabis por suas qualidades terapêuticas data de, aproximadamente, 10 mil anos atrás.
A cultura do haxixe começou um pouco mais tarde na Pérsia (principalmente Irã) e na Ásia Central (principalmente Afeganistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão).
É provável que o haxixe, como a maconha, tenha viajado pela Rota da Seda do leste da Ásia para o Oriente Médio.
No início, acredita-se que o hash era usado como incenso e também em cerimônias religiosas.
O charas, que é produzido esfregando suavemente as plantas da maconha em crescimento para extrair sua resina, também é uma forma de haxixe antigo.
Mas, outra forma de produção também existia: peneiras de tecido eram usadas para separar grãos de plantas e essas peneiras foram usadas para separar os tricomas da maconha do resto da planta colhida e seca, criando o hash.
A diferença do charas, portanto, é que este é produzido esfregando as plantas vivas nas mãos.
História do mundo antigo
Uma das primeiras menções do haxixe está no livro do alquimista iraquiano Ibn Wahshiyya, escrito no século X.
Há também textos muçulmanos do século XI onde líderes religiosos e seculares debateram sua utilidade.
Pouco tempo depois, uma história de consumo de haxixe foi incluída no livro Arabian Nights.
Há também as lendas históricas dos Ismailis Nizari, mais comumente conhecidos como a ”Ordem dos Assassinos” ou os ”Assassinos Hashishin”.
Essa seita religiosa, com fortalezas na Pérsia e na Síria, foi formada no final do século XI.
A palavra ”Assassinos” é “Hashâshīn” em persa e “asāsīn” em árabe. Existem lendas de que o fundador do grupo, Hassan-e Sabbāh (também escrito como Hasan-i Sabbah), consumiu haxixe e forneceu a seus discípulos para gerar lealdade ao grupo.
Os estudiosos debatem a validade dessas lendas, acredita-se que a seita foi incorretamente chamada de “Hashishin” no sentido árabe, que significa “usuários de haxixe”.
Embora nenhum registro arqueológico ou escrito forneça evidências claras sobre se os Assassinos consumiam haxixe como parte de suas tradições, a documentação histórica desta lenda liga a região geográfica da Pérsia ao haxixe, além de fornecer descrições do concentrado da cannabis e seus efeitos.
Enquanto isso, em 1206, Genghis Khan, fundador do Império Mongol, uniu as tribos mongóis e as transferiu da Rússia para a Pérsia e a Ásia Central, também levando a cannabis e uso de haxixe com eles.
No mesmo século, Ibn al-Bayṭār, um cientista nascido na província de Málaga, na Espanha, descreveu uma substância intoxicante do Egito que ele chamou de “hashishah”.
O uso do haxixe continuou a ganhar popularidade no Egito até o final de seu período medieval e ao longo de seu tempo como uma divisão administrativa do Império Otomano.
A partir do Egito, a propagação do hash continuou. Diz-se que as tribos berberes do norte da África introduziram o haxixe em um de seus paraísos modernos, o Marrocos.
Tempos modernos
O consumo de hash continuou a se expandir.
Durante os séculos XVIII e XIX, mudanças nos métodos de produção ajudaram a aumentar a produção e a distribuição à medida que a demanda por haxixe crescia.
Em 1798, durante a ocupação francesa do Egito, Napoleão Bonaparte proibiu o consumo de cannabis e haxixe e ordenou a queima pública de haxixe que entrasse no país. Ele acreditava que o uso de haxixe e cannabis resultava em distúrbios mentais, comportamento excessivamente indulgente e interferia no pensamento racional.
Apesar das tentativas de Bonaparte, suas próprias tropas francesas, bem como um grupo de cientistas, engenheiros e artistas da Commission des Sciences et des Arts levaram o haxixe de volta à França depois de servir no Egito.
Le Club des Hashischins foi formado em Paris em 1843. O grupo realizava reuniões mensais para experimentar e explorar os efeitos do haxixe, pois havia um interesse entre os membros do clube sobre a possibilidade de aumentar sua arte e engenhosidade.
Alguns dos participantes faziam parte da elite intelectual parisiense, incluindo escritores famosos (Alexandre Dumas, Théophile Gautier, Victor Hugo, Honoré de Balzac), pintores (Eugène Delacroix) e outros membros dessa elite.
Dr. Jacques-Joseph Moreau, um médico psiquiátrico, foi outro membro notável do clube que escreveu a primeira publicação médico sobre os efeitos do haxixe no sistema nervoso humano.
Moreau estudava sobre o tratamento de doenças mentais e ganhou muito reconhecimento pelo seu trabalho.
Seu livro, intitulado Du Hachisch et de L’aliénation Mentale — Études Psychologiques (Haxixe e Doença Mental — Estudos Psicológicos), foi publicado em 1845 e recebeu uma menção honrosa da Academia Francesa de Ciências em 1946. O reconhecimento do trabalho do Dr. Moreau’s ajudou a fundamentar e legitimar o hash, apoiando suas possibilidades como tratamento médico na comunidade científica.
A partir de meados da década de 1950, hippies de países ocidentais começaram a viajar do Reino Unido, França, Alemanha e Itália através da Ásia Central para a Índia e Tailândia no que foi chamado de Hippie Trail (Trilha Hippie).
Um grande atrativo para essa ”peregrinação hippie” foi a possibilidade de acesso à cannabis e haxixe de boa qualidade e baratos, encontradas ao longo do caminho.
Com isso, nos anos 60, a produção de haxixe do Marrocos realmente decolou, em parte por causa da Hippie Trail.
Depois que o acesso ao haxixe aumentou, sendo levado para outros locais pelos hippies, como Estados Unidos, Canadá e países da Europa, principalmente Espanha (por conta da sua proximidade ao Marrocos) a produção começou a acontecer nestes países também e o consumo se popularizou.
Além disso, a crescente legalização da cannabis abriu espaço para o desenvolvimento de técnicas mais modernas de produção desse concentrado, levando à criação de diversos tipos de extrações.
Nos cursos ”Extrações sem solventes” e ”Bubbleman’s World”, do Ganja Talks University, Marcus Bubbleman (referência mundial em extrações de cannabis) explica um pouco mais sobre os concentrados modernos.
Fonte: Weedmaps | Imagem de capa: Ed Rosenthal