Hoje, dia 29 de Janeiro, comemora-se o dia da Visibilidade Trans. A data foi escolhida porque há quase 20 anos atrás, no dia 29 de janeiro de 2004, foi organizado, em Brasília, um ato nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. O ato foi um marco na história do movimento contra a transfobia e na luta por direitos das pessoas trans.
Essa data tem como objetivo colocar em pauta discussões pertinentes para uma melhor longevidade e qualidade de vida para pessoas trans, que até hoje são assassinadas e marginalizadas. O Brasil, há 13 anos, lidera o ranking de país que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2021, foram 140 assassinatos.
A comunidade trans também sofre à margem, pela falta de oportunidade e pelo preconceito da sociedade. É preciso pautar sua dor e lutar por seus direitos.
Uso e consumo de cannabis na comunidade trans+
Apesar das pessoas trans, não binárias e outras pessoas em não-conformidade de gênero nunca estarem pautadas nas discussões canábicas, elas também usam cannabis – e deveriam ser chamadas para a roda.
Buck Angel (ele/dele), ator, produtor de conteúdo adulto e ativista trans, contou para a Leafy que a cannabis o ajudou tremendamente com seu distúrbio do sono: “A cannabis me ajudou a aprender a relaxar. Comecei a usar cannabis mais tarde na minha transição, então já lidei com grande parte da minha ansiedade em torno da transição.”
Buck ainda diz que tem muitos amigos trans que usam a cannabis para ajudar a lidar com a ansiedade que é ser trans: “É difícil para muitas pessoas trans simplesmente andar pelo mundo. As pessoas não-trans têm o privilégio de não lidar com muitas coisas que as pessoas trans lidam apenas sendo trans, como pensar que todos sabem que você é transgênero quando talvez você só queira se identificar como homem ou mulher. A cannabis ajudou a relaxar esses medos e também apenas a dar ao seu cérebro algum tempo livre.”
No ano passado, a jornalista Adryan Corcione entrevistou 7 pessoas da comunidade trans para falar sobre sua relação com a maconha, veja alguns destaques da entrevista:
“Maconha é o que pode transformar uma noite chata dentro de casa assistindo televisão em um momento bom comigo mesmo, assistindo documentários sobre a natureza e tudo mais. É também um agente social normalmente muito bem recebido. Nem todo mundo pode beber álcool, mas a maioria das pessoas que eu conheço fuma. Não há nada mais unificador do que estar na praia e iniciar uma conversa com gente que a gente nem conhece sobre um beck.” Frank Vidal (ele/elu)

“(…)Depressão é algo que eu sofri em uma idade precoce, TEPT, obviamente crescendo queer… então, a cannabis é uma ótima maneira de, não me fazer feliz, mas pelo menos me ajudar a chegar ao caminho da escolha da felicidade. Acho que a cannabis me tornou um ser mais presente. Me tornou mais consciente do meu entorno e mais consciente de mim mesmo. Acho que isso me deixou mais confiante. A cannabis ajudou a me dar a coragem de sair e vestir o que eu queria vestir e ser eu mesma.” Laganja Estranja (ela/dela)
Uma das pessoas entrevistadas, preferiu manter-se anônima, mas disse: “A cannabis me ajudou a passar pelos momentos mais difíceis, quando eu não queria existir no meu corpo do jeito que era e sonhava com essa euforia. Momentaneamente me proporcionou uma trégua da dissonância física que experimentei.”
Drian Juarez (ela/elu), artista, ainda complementa com sua experiência pessoal: “Eu diria que a Cannabis afirma meu gênero na medida em que me liberta das pressões sociais para me conformar aos estereótipos femininos e me definir de uma maneira que me sinto bem. Como alguém que fez a transição dentro da cultura do raver, comecei a explorar a erva e minha identidade feminina em concertos e dentro da cena da música eletrônica, festas de armazém e festas ao ar livre, e isso era mais sobre criar a si mesmo como arte para você e os outros desfrutarem, e a erva definitivamente parecia um catalisador para a minha criatividade.”
Outra relação da Cannabis com a comunidade é o auxilio da planta para lidar com questões sexuais:
“Muitos homens trans têm uma grande disforia corporal [que] nos afeta na vida cotidiana. Sexualmente falando, a cannabis realmente aumentou meus orgasmos e me deixou sentir mais meu corpo, me fez sentir livre. Muitas pessoas transgênero têm ansiedade, distúrbios do sono, TEPT, disforia corporal, depressão, e muitas não têm o prazer de desfrutar do sexo por causa disso. Eu acho que a cannabis pode ajudar mais pessoas transgênero se sentirem mais sexuais em seus novos corpos.” Buck Angel (ele/dele)
Laganja Estranja (ela/dela) ainda complementa com o que pra ela é o mais essencial da cannabis: “A planta me aproxima de mim mesma. O sentimento de aceitação é a coisa mais poderosa que recebo da cannabis.”
Fonte: Sinasefe, Folx Health, Leafy